sexta-feira, 31 de julho de 2009

A Voz Do SilĂȘncio -

Pior do que a voz que cala,
Ă© um silĂȘncio que fala.

Simples, råpido! E quanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situaçÔes
em que o silĂȘncio me disse verdades terrĂ­veis,
pois vocĂȘ sabe, o silĂȘncio nĂŁo Ă© dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que nĂŁo chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

SilĂȘncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.

Quantas coisas sĂŁo ditas na quietude,
depois de uma discussĂŁo.
O perdĂŁo nĂŁo vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensĂŁo.

SĂł ele permanece imutĂĄvel,
o silĂȘncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente nĂŁo quer ouvir,
pois ao menos as palavras que sĂŁo ditas
indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expÔem suas queixas, jogam limpo.
JĂĄ o silĂȘncio arquiteta planos
que nĂŁo sĂŁo compartilhados.
Quando nada Ă© dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas nĂŁo fica
aĂ­ parado me olhando!"

É o silĂȘncio de um, mandando mĂĄs notĂ­cias
para o desespero do outro.

É claro que hĂĄ muitas situaçÔes
em que o silĂȘncio Ă© bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silĂȘncio Ă© um bĂĄlsamo.
Para a professora de uma creche,
o silĂȘncio Ă© um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silĂȘncio Ă© um sonho.

Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silĂȘncio a dois nĂŁo incomoda,
pois Ă© o silĂȘncio da paz.

O Ășnico silĂȘncio que perturba,
Ă© aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguĂ©m bate Ă  nossa porta,
nĂŁo hĂĄ emails na caixa de entrada
nĂŁo hĂĄ recados na secretĂĄria eletrĂŽnica
e mesmo assim, vocĂȘ entende a mensagem.

Marta Medeiros

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